Monday 5 November 2007

Porquê a cevada?

Tenho andado a pensar nesta questão há algum tempo e das minhas pesquisas na net não consegui concluir nada de especial. Então, resolvi perder a vergonha e perguntar aos especialistas, neste caso, à Central de Cervejas, empresa responsável pela produção das nossas queridas minis. A resposta foi célere e vou transcrevê-la na integra para que não se perca informação. As perguntas que coloquei foram:
1 - Porquê utilizar cevada na produção de cerveja e não outro cereal também rico em amido, como por exemplo o trigo? (notem que há cervejas feitas só de trigo, mas são casos pontuais)
2- Porquê utilizar cevada dística em vez de hexástica?
A resposta foi dado pelo Engº Pedro Vicente da Central de Cervejas:
Boa tarde, folgo que haja um blog a falar das minis. É pena não terem enviado o link. As perguntas são extremamente interessantes e pertinentes.
1 - O malte de cevada é tradicionalmente a matéria prima por excelência por uma série de razões:
- é altamente resistente a infecções
- tem um elevado conteúdo de amido
- a casca adere ao grão, mesmo após o processo de maltagem, o que permite a existência de uma camada filtrante na produção de mosto, que é essencial para a sua clarificação (este é o principal problema do trigo, pois o trigo é um grão nu, sem casca)
- existe uma produção elevada de enzimas durante o processo de maltagem (amilases, proteases e glucanases) que são extremamente úteis para o processo de fabrico do mosto
- contém ácidos gordos insaturados, que contribuem para a fluidez da membrana da levedura na fermentação
- contém oligoelementos
O processo de maltagem (germinação controlada do grão, de modo a permitir a hidrólise do amido na produção de mosto) é assim tradicionalmente essencial para a produção de cerveja. Mais recentemente, é possível fabricar cervejas sem malte de cevada, através da utilização de enzimas industriais. Assim, existem vários sítios onde se produz cerveja a partir de cevada não maltada, sorgo, titricale, etc.
As cervejas de trigo são também tradicionais de alguns países, como a Bélgica (não maltado) ou a Alemanha (maltado). Existem mesmo cervejas feitas a partir de 4 cereais. O consumidor "tradicional" associa o sabor da cerveja ao obtido com o malte de cevada, pelo que este é mais um obstáculo à sua substituição. Uma cerveja de trigo maltado, por exemplo, tem um perfil organoléptico muito diferente, com aromas a especiarias como o cravo de cabecinha.
2 - Habitualmente, usa-se a cevada dística (Hordeum distichum), também chamada de cevada de Primavera, em vez da hexástica (Hordeum polystichum), também chamada de cevada de Inverno, por ser mais homogénea. Contudo, é possível usar igualmente cevada hexástica, que até tem um rendimento superior. Mas existem diferenças de variedade para variedade. Não basta ser dística para poder ser usada. No nosso caso, temos várias cevadas dísticas e hexásticas aprovadas e faz parte da arte do malteiro fazer a mistura das diferentes variedades para se obter o resultado desejado na produção do mosto.
Espero que esta informação seja útil. Com os melhores cumprimentos, Pedro Vicente
Quality Assurance SCC Beer and Soft Drinks

2 comments:

kuyzat said...

muito interessante. daqui a uns tempos até já percebemos qq coisa de cerveja, para além de levá-la à boca. agora tens de enviar o link do blog ao eng. e convidá-lo para umas mines com a malta.

Krugul said...

não se preocupem que já enviei o link. Saudações Cervejeiras